quarta-feira, 11 de setembro de 2019

O REI NO PICADEIRO EM RUÍNA

Para o político corrupto, palácio... Para o eleitor iludido, palhaço...!
Não é justo dizer que a política se transformou numa grande palhaçada. Mas é absolutamente justo afirmar que todo palhaço é um político.
Contracena usando os mesmos artifícios de interpretação da política. E sofre os mesmos medos e busca as mesmas glórias, de certa forma.
O palhaço quer o aplauso, quer ser amado, quer casa cheia. E nada mais solitário do que o antes de subir ao palco.
Palhaços e políticos, sem público, desaparecem.
Não podem nunca perder a graça.
Falo ainda sob o impacto de espetáculos protagonizados por magistrais palhaços de verdade e que alegres aulas de tudo o que os animais políticos precisam ter para sobreviver na selva da vida pública.
Os políticos não seguem para periferia da cidade atrás de aplausos e quando a visitam, é somente em busca de apoios políticos e votos. Isto porque o circo da política não pode parar. E seus protagonistas se apresentam com sua trupe, escancarando gargalhadas, abraços e cédulas de cem reais.
No circo do palhaço, como nos comícios dos políticos, a grande estrela – ele – é o ápice do espetáculo.
Antes, vêm os correligionários: o engolidor de fogo, o equilibrista, o palhaço assistente.
Na política, os caciques também possuem uma equipe com gente que brinca com fogo, com outros que andam na corda bamba e políticos que servem de escada para que o maioral faça sua entrada triunfal.
No circo do palhaço, a graça não é o humor pasteurizado e politicamente correto dos humorísticos e profissionais do riso. Ali, o Brasil se vê como é. Num dos momentos, a plateia morre de rir do palhaço falando do assalto que sofreu na noite anterior, do médico que não apareceu, da rua esburacada e mal iluminada, que desvaloriza sua casa e do filho, que não foi pra escola, porque ela estava sem merenda e sem professores.
A palhaçada retrata a realidade da maioria das pessoas que o aplaudem.
O show fala de problemas reais que pessoas reais de Eunápolis real vivem. E ao rirem deles fazem uma terapia.
Intelectuais chamariam de catarse. Palhaçada é a terapia da plebe.
Os artistas reverberam a baianidade de seus sotaques em piadas, que muitas vezes revelam seus próprios dramas. E crianças e adultos são envolvidas naquela fantasia; como na política, como nas campanhas, como nos debates eleitorais. E lá no alto, no olimpo daquilo tudo, reina o palhaço Fraterno... como se estivesse num camarote, apenas no aguardo da chegada do show da campanha eleitoral, para encenar seus sorrisos fáceis, seus abraços falsos e suas milhares de cédulas de cem reais!
Ah... mas não há como senti inveja dele!
Queria um dia, um dia só, ver ele passear pelas ruas de Eunápolis e muita gente gritando:
– Palhaço… palhaço Barrabás, palhaço Iscariortes... Xô satanás!
A glória não é fácil. Na vida ou na política.

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