Se a Bahia fosse uma pessoa com vários focos de doenças graves que chega em uma sessão de acupuntura para pedir ajuda e eu fosse um médico com apenas uma agulha, o ponto que eu escolheria estimular é Eunápolis. Passei o último mês estudando essa cidade, fazendo uma investigação para o trabalho Abrindo Caminhos para uma Cidade mais Humana.
Por tudo o que vi e estudei e após ter percorrido mais de 300 cidades em quase todo o Estado da Bahia, digo com convicção — mexer em Eunápolis, é mexer na Bahia inteira.
Por tudo o que vi e estudei e após ter percorrido mais de 300 cidades em quase todo o Estado da Bahia, digo com convicção — mexer em Eunápolis, é mexer na Bahia inteira.
É uma cidade
próspera, com recursos para investir em experimentos. Tem um traçado pensado de
forma lógica, organizada. Tem advogados que pensam e atuam para atribuir valor
às práticas sustentáveis como a prestação de serviços ambientais. Tem médicos
engajados em melhorar a saúde pública a partir do meio ambiente urbano.
Produtores de alimentos orgânicos e locais engajados em mudar a lógica rural da
cidade. E arquitetos comprometidos com as ideias de escala humana e cidades
para pessoas.
Mexer em Eunápolis
é mexer em um setor que movimenta uma considerável parcela da economia
sulbaiana, o agronegócio. É mexer, portanto, no poder da bancada ruralista. É
mexer em um dos vetores de crescimento do extremo-sul do estado. É mexer no
clima e no ciclo da água e na nossa lógica de fazer cidades.
Mas mexer por
onde?
Dos diversos
caminhos que a cidade tem para se reinventar, um me chama a atenção.
Eunápolis tem a
rara vocação de gerar inovação no maior problema urbano do Brasil, aquele sobre
o qual ninguém tem coragem de falar — o esgoto.
O Brasil nunca
aprendeu a lidar com esgoto — a prova disso é que quase todas as nossas cidades
despejam mais da metade do seu esgoto in natura nos rios e, por causa disso,
segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, não há mais rios urbanos com qualidade
boa no país.
Quando não
jogamos direto no rio, “tratamos” o esgoto — mandamos tudo para uma caixa de
concreto e enchemos de aditivos químicos para purificar os resíduos. Mas, tratar
o esgoto é uma ideia anacrônica, é jogar fora todos os nutrientes, toda a energia
que fica ali acumulada (em muitas casas, o esgoto é reciclado e gera o biogás
que alimenta o fogão da cozinha). Compreender o esgoto como fonte de recursos é
uma chance de lidar melhor com essa questão no país.
Pensar nisso
numa metrópole como São Paulo é complexo demais. Mas em Eunápolis, uma cidade
média de 140 mil habitantes, próspera, diversa e precisando se reinventar, é
possível.
Apenas 25% do
esgoto gerado em Eunápolis é coletado. Mas garantir a coleta na cidade toda é
replicar um modelo que já não deu certo no resto do país. Eunápolis é onde
apenas um de cada quatro moradores tem coleta de esgoto
Todas as casas
em Eunápolis com sistemas de fossa são potenciais laboratórios para criar uma
solução melhor do que as que temos no país.
Uma solução
escalável para outros municípios pode nascer em Eunápolis. E isso pode começar
a mudar a cultura e a economia da cidade, disseminando cura para todos esses
temas complexos do país que se manifestam entre os eunapolitanos.
Eunápolis
necessita de gente que entenda de inovação, complexidade, orgânicos,
regeneração da mata nativa, reciclagem de resíduos, bio construção, gestão da
água, cultivo de espaços públicos, política hacker, nova economia, nova
educação, futuro do trabalho, financiamento coletivo, liderança, arte nas suas
diversas linguagens, jornalismo, terapias holísticas, auto-conhecimento, parto
humanizado e demais talentos que possam influenciar positivamente a vida em Eunápolis.
Para fazer algo
desse tamanho, Eunápolis precisa de líderes que a ajudem e os que estão no
comando da prefeitura, atualmente, já passaram da metade do tempo que possuem
como gestores e nem sinais deram de que farão algo de positivo neste contexto.
Portanto, não será com Robério e sua equipe de assessores, que Eunápolis
avançará.
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