Não é saudável ficar somente esperando o tempo passar, para na velhice sentar numa praça e jogar milhos ao pombos! |
A formação da vida
é tão mágica e perfeita, concebida como obra e criação de divindade maior, que
nem a sombra do tempo que nos envolve leva a não pensar no fim inevitável na
máxima de sermos como afluentes de um só rio.
Cabe aqui uma
pergunta: Qual o momento em que sentimos que a mocidade está indo embora e, em
seu lugar, vem a inevitável velhice com passos rápidos, porém, paradoxalmente,
lentos?
Salvo a
compreensão dos anos que se seguem, cada um de nós tem experiência de vida.
Comigo aconteceu que, independente dos janeiros percorridos, uma determinada
manhã me veio o sinal de que a maturidade e a velhice estavam em seu caminho
implacável.
Como foi sentir
essa sensação? Admiti, depois de pensar bastante, que o motivo que me levava a
enxergar o passar dos anos estava na observação, pela primeira vez, de
movimentos de jovens correndo, pulando e congraçando com seus amigos em torno
de uma celebração.
Fiz, então, um
retrato mental, concluindo que aquilo era uma manifestação que passei a
admirar, fato que na juventude nada me impedia de participar da alegria que
também já me fora comum.
O tempo nos exibe
os cabelos brancos, o corpo arqueado e outras tantas nuances, inclusive o
perigoso alzheimer e a perda gradativa da cognição.
Sempre recordo os
momentos em que me surpreendi que aquilo era sinal de que estava envelhecendo.
Isso é o estigma de todos, indistintamente, cada qual sentindo à sua maneira.
Como lembrança
daqueles dias da quase maturidade, recentemente me veio a mesma sensação
autêntica dos meus pensamentos, já agora vivendo outra fase. Estava assistindo
a uma manifestação popular envolvendo jovens, da puberdade à adolescência. Com
que prazer acompanhava os movimentos pueris daquela juventude, lembrando o que
disse o desiludido jamaicano Bob Marley sobre o tempo, hipótese ainda não
percebida por aqueles jovens de que “ninguém pode voltar no tempo e fazer um
novo começo, mas podemos começar agora a fazer um novo fim”.
Claro que nenhum
daqueles jovens estava pensando nisso, pelo menos naqueles momentos festivos,
Mas a sina dos seres humanos é viver experiências como a que vivi tempos idos.
O desenrolar da
vida é magnífica e soberana. Não sentimos a graduação do avançar da idade. O
retrato maior da realidade nos é mostrado pelos espelhos, e o seu fatalismo
também, como nos versos de Cazuza, o tempo não pára. Nós que passamos.
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