quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A IRRADIAÇÃO ATIVA DO BURRO, QUE AMASSA BARRO PRA FARAÓ!

Na Ativa não faltam burros domesticados, que se acham leões indomáveis! 

Não creio que exista alguém capaz de se opor a minha convicção de que burrice não é a falta de um conhecimento específico. Um trabalhador rural de uma comunidade isolada pode não saber navegar na internet. Mas duvido que você saiba produzir alimento a partir da terra como ele. É impossível saber sobre tudo e a beleza de estar em sociedade é a complementaridade dos saberes, a ponto de precisarmos uns dos outros para sobreviver.
Burro também não é quem separa sujeito e predicado por vírgula. Muita gente não entende isso e desvaloriza a opinião do outro por não compartilhar dos mesmos padrões de fala ou do mesmo universo simbólico. Algumas das pessoas mais sábias que conheci são iletradas. E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Significa que os iletrados são melhores que os doutores? Não. Então, o contrário? Também não. Pois é burrice achar que usar ou não a norma culta da língua é condição para participar do debate público.
Trato aqui da burrice de quem menospreza o conhecimento, seja ele qual for, chegando a odiar quem o detém ou quem busca aprendizado.
Da burrice prepotente e apressada, que xinga um texto ou fala num programa de rádio sem ter consumido nada além de seu título, manchete ou visto o nome do autor ou autora, ou do radialista. E, diante das críticas sobre a superficialidade desse comportamento, rosna, dizendo – no melhor estilo Jota Bastos – que tudo o que é importante pode ser escrito em uma linha ou um tuíte. Ou que acredita que um produto é ruim simplesmente por não ter ido com a cara do rótulo.
O burro é aquele que vê seu preconceito violento como sabedoria.
Essa burrice, montada na soberba, pensa que já sabe de tudo a ponto de tachar os que discordam de sua visão de mundo como mal informados, comprados ou manipulados sem apresentar dados e fatos que corroborem a crítica. Ou tenta calar as vozes diferentes da sua por encarar a dissonância como ruído e não como música.
Pois a burrice sempre tenta destruir o conhecimento que ameaça jogar luz sobre ela própria.
A burrice também é incapaz de aceitar o próprio erro, transferindo a culpa para o outro. Ou, diante de um questionamento, foge da autocrítica, dizendo que outra pessoa ou partido também faz a mesma coisa. A burrice não pede desculpa. Pois a burrice de um indivíduo acha que é absolvida pela burrice de outro indivíduo ou do coletivo.
A burrice não aceita a existência de outra versão que interprete os fatos além da sua. É incapaz de reafirmar sua visão e, ao mesmo tempo, conviver com análises divergentes. Enxerga a opinião alheia como ”notícia falsa” não por desconhecer a diferença entre formatos de textos narrativos e opinativos, mas por não admitir o conteúdo.
Ler, escrever, ouvir e falar coisas com as quais concordamos e com as quais não concordamos é um primeiro passo. E fontes de informação que não sejam anônimas, ou seja, que se responsabilizam pelo que divulgam, é outro. Preferir fontes que baseiam seus relatos em provas e não em suposições ou teorias da conspiração. Que são gostosas, mas burras.
Um programa de Rádio deve promover debates e informações para que todos entendam que tipo de mensagem estão passando ao povo – ainda mais neste ano eleitoral. Dois ouvintes que defendam o voto em um candidato X e dois outros ouvintes que defendam o voto em um candidato Y podem ser convidados para apresentar seus pontos de vista para os ouvintes, de forma respeitosa. Pois a aprender como fazer a discussão de valores com respeito a ideias divergentes é tão importante quanto absorver conhecimento técnico. Quando uma emissora de rádio fecha os olhos a isso, transmite uma ideia. Em outras palavras, o silêncio não é neutro.
Como sempre digo: falta verdade no mundo, mas falta interpretação de imprensa. E calmante na água de muita gente.

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